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P o e s i a - João de Abreu Borges
Lótus
A lama é fértil
A alma é festa
A língua é farta
A água é funda
O lago é calmo
O ego é Salmo
A luz, yoga
A paz,
palmo a palmo,
é nossa entrega.
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P r o s a
João de Abreu Borges
Únicos e múltiplos
São preciosos os pequenos espaços, os pobres momentos, os insuficientes olhares, os desesperados passos... Tudo isso é precioso, porque traz em sua própria natureza os seus opostos e a oportunidade única de reconhecê-los um pelo outro, e não apenas como uma vivência unilateral.
Únicos, sim, nós somos enquanto indivíduos isoladamente circulando pelo Universo. Únicos, porque somos ímpares pelas mãos da Eternidade, e só essa unicidade nos dá apenas o direito de respirar, de inspirar e transpirar.
Surge em nós a vontade de ser o outro, porque vivenciamos diversas metamorfoses durante a nossa existência eterna, inclusive esta aqui no planeta Terra. A partir dessa necessidade, ser o outro significa confirmarmo-nos enquanto ser vivo ou estar vivo.
Ser Um e, ao mesmo tempo, Outro, é ser único como uma folha é para a importância de toda a árvore; como um grão de areia para todo o Universo, por extensão. Somos múltiplos naqueles ou em tudo aquilo que nos rodeia, por dentro e por fora.
O fio invisível que entra e sai pela nossa respiração é como a flauta dos aborígenes da Austrália, umbigo musical entre o homem e o Universo.
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