Jovem escritor: quer publicar um livro?
Conheça dicas valiosas de quem escreve e de quem publica
Quem escreve quer ser lido. Seja poesia, crônica, romance ou contos, o mais difícil para os jovens escritores do Brasil é serem reconhecidos e chegarem a uma das principais satisfações: ter um livro publicado e divulgado no mercado editorial. Essa concepção é do escritor, Douglas Donisete Seif de Avelar, que após algumas respostas negativas em concursos, decidiu custear sua própria publicação. O jovem que escreve desde os dez anos, pagou R$3 mil para publicar 500 cópias do livro "Coisas", uma coletânea de 12 crônicas. A publicação não teve venda profissional e não foi repassada a nenhuma editora.
Na opinião do jovem escritor, a escolha de fazer uma publicação individual e bancar os custos compensou para que ele pudesse incluir essa experiência no currículo. "Cuidei da distribuição e divulgação dos livros, acho um projeto interessante, embora tenha pagado as despesas do meu bolso. Já imaginava como seria, mas valeu como experiência inicial", garante. Para este tipo de investimento, algumas editoras ajudam na divulgação, a depender do tipo de publicação.
O editor-chefe da editora Tmaisoito, Tomaz Adour, que costuma abrir espaço para autores iniciantes, explica que os livros ficam disponíveis para venda no site da empresa e há possibilidade de fazer uma noite de autógrafos. Em alguns casos, os livros também são passados para algumas livrarias. "Tiragens acima de 500 exemplares podem ser comercializadas em livrarias, entretanto é necessário ter aprovação do estabelecimento. Autores novos, livros com temas específicos ou de poesias não são bem-vindos, porque não vendem. O tema precisa ter atratividade para ser aceito", revela Adour.
O diretor-presidente do grupo editorial Scortecci, João Scortecci, explica como é o processo de avaliação para publicar um livro de maneira individual e custeada, conforme fez o jovem escritor Avelar. "Primeiro fazemos uma entrevista com o autor para analisar se ele tem potencial para vender muito ou pouco, posteriormente é analisado o tamanho da família e da empresa onde trabalha, se conhece bastante gente, se tem convívio social, cidade onde mora e se tem vida escolar. Todas estas características podem determinar se a venda será grande", afirma Scortecci. Toda essa avaliação é observada em números. Ele já estimou aproximadamente 275 pessoas em cada lançamento de livro. "Já foi notado que essa quantidade é fundamental para garantir a satisfação e venda do material. Muitos publicam apenas pelo sonho, é preciso ter uma análise para não virar tudo um pesadelo", adverte Scortecci.
Ao contrário de Avelar, que custeou a sua publicação, a escritora e jornalista Vanessa Bárbara conseguiu ter dois livros patrocinados por editoras. Ela apostou a sorte da sua primeira obra, "O Livro Amarelo do Terminal", em 715 editoras e em principio todas as respostas foram negativas. Entretanto, depois de três anos, o livro chamou atenção de um editor que recomendou a publicação. "Resolveram apostar no livro e ele foi publicado. Embora eu não ache que o principal objetivo do escritor seja a publicação, foi gratificante", afirma. A segunda obra da escritora, "O Verão do Chibo", escrito a quatro mãos, foi diferente. "Já com um livro publicado anteriormente, a editora que me procurou para publicar o segundo", explica Vanessa.
Na opinião do presidente da Academia Paulista de Letras, José Renato Nalini, custear a publicação é a saída de muitos escritores anônimos que não tiveram a mesma sorte que Vanessa para tentar aparecer no mercado editorial. "Tem de ter perseverança e ficar atento. Cada editora funciona de um jeito, quem não é conhecido é obrigado a custear sua própria obra, para isto, é necessário pesquisar as editoras que oferecem o serviço, estudar o contrato, fazer acordos e pesquisar preços", explica Nalini.
Embora a lei do direito autoral estipule 60% do lucro para o autor e 40% para a editora, quando o escritor paga seu livro, é importante ter atenção na hora de assinar um contrato. "Tem editoras que fazem uma publicação a qualquer preço. É obrigação do autor ler corretamente e ver o que será incluído no serviço", orienta Nalini. Na opinião dele, a Internet abriu espaço para muitos escritores, o que também dificulta o sucesso das obras. "Com o computador, há um aumento de escritores, mas faltam leitores para ler e refletir sobre o que consomem, embora seja uma maneira de divulgar o trabalho. Quem é famoso conseguirá um patrocínio, quem não é, precisa ralar muito e começar".
Por onde começar?
Se você quer publicar um livro e não sabe por onde começar, saiba que as antologias são uma boa pedida para ingressar no mercado editorial. Composta por um conjunto de poesias, contos, ensaios ou crônicas selecionadas de diversos autores iniciantes, elas são mais baratas e um meio de viver a experiência de ter algo publicado. Para Nalini, é mais fácil entrar numa antologia. "A criação é mais simples, o autor usa poucas páginas e deve ter uma mensagem sedutora para prender o leitor. Com a antologia, o autor pode se aprimorar e desenvolver um livro depois com mais qualidade". Outra característica positiva na visão dele é a identificação com o leitor. "Neste tipo de leitura, o autor pode encontrar um leitor que tenha afinidade com o seu texto. É estimulante para o escritor e assim outros textos serão criados com mais prazer", opina Nalini
A assistente de comunicação, Carla Carniel, é prova de que a antologia é uma maneira mais fácil de ter acesso à experiência de ver a obra dentro de um livro. Carla, que começou a escrever contos curtos e poemas com 12 anos, conseguiu este ano fazer parte da antologia "Sentido Inverso", da editora Andross, com 95 autores e 143 poemas. "Fiquei muito feliz em ter sido selecionada. Eu, que não levava muito a sério e não me preocupava com o lado profissional, já tenho outros projetos para levar adiante", comemora.
A jovem escritora, que ganhou estímulo para apostar em seus contos, pretende encaminhar mais obras para algumas editoras. Com a experiência de ter material publicado, Carla passa as dicas para quem escreve e também deseja tentar a sorte numa editora. "A descrição e os detalhes num texto são fundamentais e prendem os leitores. Aprendi a aprimorar meu trabalho lendo", afirma. Outra característica que Carla considera fundamental para o texto é a imaginação. "Deixe a imaginação fluir naturalmente e não se prenda ao que escreve. Se não gostar do resultado, pegue outro papel e comece tudo de novo", aconselha.
O também jovem escritor Douglas Donisete Seif de Avelar defende o que vive no cotidiano como aliado e muitas vezes como inspiração para escrever. "Conheça o ser humano, aproveite as situações e os momentos, ouça o que as outras pessoas dizem e seja atencioso. Prestar atenção ao que acontece ao nosso redor pode gerar boas histórias, a depender do ponto de vista de cada um", diz.
João Scortecci aconselha os jovens escritores a participarem de atividades que permitam contato com outros profissionais da área. "Oficinas literárias, bate-papo com outros escritores, cursos, palestras, bienais de livros e concursos são recomendações para quem deseja ganhar experiência". Apesar de não ser fácil adquirir experiência, ele recomenda a participação. "É bom para o escritor ganhar conhecimento e uma forma de interação", diz. A escritora Vanessa Barbara, que já participou de oficinas e concursos, também indica a participação em ambos. "As oficinas são divertidas e tem como aprender muita coisa, já os concursos são saudáveis e podem render material. Embora, na minha opinião, a leitura seja determinante para quem escrever", explica Vanessa.
O editor chefe, da editora Tmaisoito, Tomaz Adour, divide a mesma opinião de Scortecci quanto aos concursos literários. "Mesmo que seja um concurso menor de uma cidade pequena é bom começar a se interessar por isso. Desta forma, o escritor vai se aprimorar e o texto terá mais qualidade", declara. (Confira abaixo o portal dos concursos literários).
Para o presidente da Academia Paulista de Letras, José Renato Nalini, a principal dica é estar ciente de que o seu trabalho é bom, além de conhecer e dominar as regras da língua portuguesa. "Conhecer a gramática, entender de concordância, ter boa grafia, saber explorar as figuras de estilo, transmitir coisas agradáveis, possuir assunto que instigue e ter tema atraente são qualidades que merecem destaque. Tudo isso precisa estar dentro de um bom relato, caso contrário, o escritor não prenderá o leitor", explica Nalini.
Na visão de Nalini, o único fator que pode desestimular o leitor é tentar ganhar dinheiro no mercado editorial. "O Brasil é um país periférico e de pouca cultura. Tem um grande número de analfabetos. Se o escritor deseja sobreviver dos seus escritos vai morrer de fome. O mercado é melhor para quem edita, não para quem escreve", explica. Scortecci segue com a mesma concepção de mercado de Nalini. "Ganhar dinheiro é difícil, não é o lugar mais adequado para quem busca renda. Isso vale para todo o mercado cultural brasileiro", acrescenta.
Portal Universia Brasil, 23 jul. 2008.
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