Mãe negra
Genildo Mateus
A porta range como correntes se arrastando
Pés estáticos juntos em uma cama fria...
Calada!
Um grito contido, alguém lhe cala a boca
As carnes se contraem.
Uma mulher negra
Se torna objeto
O ranger da cama confunde-se
Com o trincar dos dentes
Engula o choro!
Dores
De um sentimento sem trajetória
A noite escura confunde-se
Com sua pele
Negra!
Sem sombra
Que tomba
Numa luz que se apaga
Sobre sua cabeça, ordena
Aborto!
Aborte...
Não quero carregar a culpa
Em meus olhos não quero ver... a sentença
Negro!
Mestiço
Bastardo
Cresce sem esperança na favela
Gritos invadem seus ouvidos
Sem compromisso
Não aceita, a margem
Um tiro numa tarde fria
Alardeia ao pé do morro sobre o asfalto
Um assalto!
Um engano
Debaixo do pano
Um corpo negro sangra
Entre sirenes estridentes
Um círculo
Um circo... armado
Hoje tem espetáculo
Sob o olhar da mãe que lamenta
Mais um que se foi...
Sem identidade
Sem certeza que viveu!
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