domingo, 24 de janeiro de 2010

ANDRÉ, O RABEQUEIRO POR JOÃO DA MATA COSTA

André, o Rabequeiro

João da Mata Costa

André de Sapato Novo é um belo samba-choro.
André o Rabequeiro toca o violino dos pobres e não imagino – ele, usando um pisante novo, muito embora tivesse a sua ribalta em frente a uma sapataria no centro da cidade alta na estreita rua medieval Câmara Cascudo e, André, o seu menestrel.
Seu olhar vesgo é triste como sua música de repertório composto de clássicos da canção regional nordestina. Toca aí o “Forró do Pé Rapado”, André. Ele que é um dos poucos remanescentes daqueles grandes artistas populares que fazem parte da alma inconsútil das cidades.
Quando alguém importante visita a cidade, André é apresentado como parte do folclore da cidade. Foi assim quando de uma visita do Paulo Moura a Natal e apresentado a André ficou emocionado com a sua música. Retirou todo o dinheiro que tinha no bolso e entregou ao pobre músico André. André cospe. André olha de esguelha, sempre desconfiado deles que não pagam.
Nascido em Santo Antonio do Salto da Onça – no Rio Grande do Norte, André morava numa casinha humilde de Mãe Luíza. Comia quando dava. Tocava sempre para alegrar os transeuntes apressados que compravam mais um sapato. Tudo nele era roto. A caixa embalagem da rabeca. A roupa. O sapato.
André se despediu de décadas tocando para Natal. Eu o conhecia desde muito em feiras, ruas e festas. A cidade alta ficou mais triste. Ainda ouço André tocar mas não sei se quero ir na cidade comprar sapato.
Adeus meu querido André, você que bordou e pespontou as bordas de uma cidade vestida do som de sua bela e triste Rabeca.
Domingo, Janeiro 24, 2010

O VALOR DE SEU ANDRÉ DA RABECA PERCEBE-SE NA EMOÇÃO DOS QUE SE DESPEDEM.

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