quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

TRIBUTO A SEU ANDRÉ DA RABECA PELO REPÓRTER FOTOGRÁFICO CANINDÉ SOARES

A rabeca será doada ao Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão.


D. NAZARÉ, VIÚVA DE ANDRÉ DA RABECA

SEU ANDRÉ DA RABECA


Por Sandro Fortunato – www.sandrofortunato.com.br
"Em 2000, comecei uma série sobre figuras populares de Natal (RN) para o site Natal na Íntegra. André da Rabeca estava nos primeiros nomes pautados e chegou a ser fotografado, mas a matéria não foi concluída. No dia 6 de agosto de 2008, de volta à cidade, encontrei André no meio-fio em frente à Manchete Calçados, na esquina das ruas Coronel Cascudo e Princesa Isabel, na Cidade Alta. Saquei o “chaveirinho” do bolso e fiz algumas fotos. André não era de muita conversa, mas, encantado com a máquina, me perguntou quanto custava e comentou que poderia ganhar uns trocados a mais se tivesse uma, fotografando os casamentos nos quais, vez ou outra, era chamado para tocar.
Nascido no interior do Rio Grande do Norte em 27 de outubro de 1942. Segundo seu pai, André era mole e não dava para trabalhar na roça. No início dos anos 80, pegou a estrada para a capital e foi tocar rabeca nas ruas. As últimas notas de sua história como rabequeiro foram dadas em dezembro passado. A tuberculose se manifestou mais uma vez e seu estado de saúde piorou rápido. Como todo desvalido, fez sua peregrinação pelos postos e hospitais públicos: Posto de Saúde de Mãe Luíza (bairro onde morava), Hospital dos Pescadores (Rocas) e Walfredo Gurgel. Medicado e mandado para casa, sem o tratamento adequado, só parou no quarto, o Giselda Trigueiro, quando já era muito tarde. Deu entrada na segunda, 11 de janeiro, e faleceu na tarde do sábado seguinte, dia 16, às 16h05.
André morreu aos 67 anos, deixando Dona Nazaré, sua esposa, e cinco filhos. Destes, só Ivanilson, o mais novo e único nascido em Natal, morava com ele. Os três filhos homens estiveram no sepultamento no cemitério do Bom Pastor, no domingo, 17. As duas filhas, que moram em cidades do interior, nem sabem que o pai faleceu. Nenhum deles aprendeu a tocar rabeca. Nem os muitos netos. O instrumento, que nos últimos tempos ficava na lanchonete Fri-Shop (em frente à Manchete Calçados), continua guardado por Jeane Araújo, dona do local. Segundo Ivanilson, a rabeca será doada ao Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão."
Canindé, sua sensibilidade humana e artística são incomparáveis. Tocou-me profundamente a matéria sobre seu André da Rabeca de autoria de Sandro Fortunato, a quem também parabenizamos pela iniciativa feliz e de grande valor humano e cultural. A SPVA/RN teve oportunidade de homenageá-lo em vida em seu sarau lítero musical Estação da Lira. Seu André da Rabeca representa a luta cultural do nosso povo simples que não consegue se fazer ouvir e sobrevive sempre no esquecimento da falta de memória embora seja, pela persistência, ícone inconteste da identidade potiguar.

3 comentários:

Civone Medeiros disse...

Olá Jânia...

Tá na Web um Documentário que participa/entre outras almas, o mais recente “Rabequeiro do Céu” > FACES da RUA em http://www.vimeo.com/8868716

+em www.naredecomcivone.blogspot.com

Gibson Azevedo disse...

Estou vivendo na minha querida Natal há quarenta e um anos... Assisti o seu crescimento, a sua transformação de província para metrópole. Fui partícipe dos ares de grande cidade que, a pequena urbe daqueles dias, adquiriu no trascorrer destes anos. Amiudando os seus dias, conheci alguns personagens da história popular deste queridíssimo reduto humano. Principalmente, os artistas... Cito alguns: Zé Mininim, Zé Minhoca, Britinho, Rei do Bico, André da Rabeca, a Paraguaia e outros tantos, que pululam ou pulularam na cena urbana do nosso arruado. Dividi este saboroso espaço cívico com todos eles. Com muito orgulho!
Natal, todavia, não consagra nem desconsagra ninguém (frase que gerou uma celeuma quanto a sua criação: Uns, acham que foi criada por Câmara Cascudo. Outros, esbravejam e diz que é obra do poeta Esmeraldo Siqueira). Não querendo entrar no mérito da discursão, assim mesmo, aprovo o seu enunciado; este, repleto de verdades. Noto com alegria, as homenagens póstumas, que se nos prometem acontecer, nos dias subsequentes a sua morte. É bom que realmente aconteçam, pois não é o costume corrente entre os nossos concidadãos. Lembro da morte do poeta maldito e popular Milton Siqueira; figura que povoou, com sua existência e sua arte, várias décadas do nosso cenário urbano. Pois bem, estávamos no seu velório e sepultamento; eu, Juliano Siqueira, Justiniano Siqueira(Mano, meu cumpadre), uma senhora que cuidou dele nos últimos dias de vida, junto com o seu marido. Ao todo, afora os coveiros, cinco pessoas. Ninguém mais...
Deixou-me tarciturno, aquelas exéquias...
Será que Natal mudou? Em todo caso, viva André da Rabeca! Valeu, caro operário da música!
Natal, hoje, se encontra mais vazia.

Anônimo disse...

André, o Rabequeiro
João da Mata Costa

André de Sapato Novo é um belo samba-choro. André o Rabequeiro toca o
violino dos pobres e não imagino – ele, usando um pisante novo, muito
embora tivesse a sua ribalta em frente a uma sapataria no centro da cidade
alta na estreita rua medieval Câmara Cascudo e, André, o seu menestrel.

Seu olhar vesgo é triste como sua música de repertório composto de
clássicos da canção regional nordestina. Toca aí o “Forró do Pé Rapado”,
André. Ele que é um dos poucos remanescentes daqueles grandes artistas
populares que fazem parte da alma inconsútil das cidades.
Quando alguém importante visita a cidade, André e apresentado como parte
do folclore da cidade. Foi assim quando de uma visita do Paulo Moura á
Natal e apresentado a André ficou emocionado com a sua música. Retirou
todo o dinheiro que tinha no bolso e entregou ao pobre músico André. André
cospe. André olha de esguelha, sempre desconfiado deles que não pagam.

Nascido em Santo Antonio do Salto da Onça – no Rio Grande do Norte, André
morava numa casinha humilde de Mãe Luíza. Comia quando dava. Tocava sempre
para alegrar os transeuntes apressados que compravam mais um sapato. Tudo
nele era roto. A caixa embalagem da rabeca. A roupa. O sapato.

André se despediu de décadas tocando para Natal. Eu o conhecia desde muito
em feiras, ruas e festas. A cidade alta ficou mais triste. Ainda ouço
André tocar mas não sei se quero ir na cidade comprar sapato.

Adeus meu querido André, você que bordou e pespontou as bordas de uma
cidade vestida do som de sua bela e triste Rabeca.