A MODERNA RODA DOS ENJEITADOS.
A Roda dos Enjeitados era a famigerada roda dos expostos, que ficava entre as partes interna e externa de certas instituições de caridade católicas entre os séculos XVIII e XIX. Crianças pobres ali deixadas pelas mães ou pais. A roda de madeira girava e o rejeitado passava para outro mundo. Abrigos os recebiam. Iam viver como enjeitados, sem família e sem histórias. Lembrei desta roda, para onde deixaram o meu projeto do livro Rezadeiras do RN. Rejeitado por duas vezes. E estas, patrimônio estadual. Imaginem, se não fossem, como no tempo das "santas fogueiras da inquisição", onde muitas foram torturadas, como feiticeiras. Obra inédita, não contou pontos. O autor, mesmo se comprometendo a doar parte de sua edição as bibliotecas públicas estaduais, não contou pontos. A experiência de quarenta anos de atividades culturais do autor, não contou pontos. Sua idade, menos ainda. Em se tratando de pesquisa e memórias com mulheres simples do povo, não contou pontos. Desse jeito, eu até concordo e parabenizo os sérios e competentes avaliadores da Lei de 'incentivos' culturais Paulo Gustavo/Governo do RN. E quem não serve, e não tem defesa, tem mesmo que parar na roda dos enjeitados. Assim era, a avaliação dos julgadores das crianças "enjeitadas". Rejeitaram uma pesquisa de campo oral, iniciada em 1993, na cidade de São Paulo do Potengi, quando ali fui hospedado por uma semana, na casa do saudoso Monsenhor Expedito Sobral de Medeiros. Ele próprio, indo comigo nas casinhas das rezadeiras, suas velhas amigas. Minhas entrevistadas. Livro com centenas de rezas, muitas fotografias e tendo como base bibliográfica três obras de Câmara Cascudo - Dicionário do Folclore, Superstições e Meleagro. Como diz o sábio e desconfiado povo: "quando botam uma pedra em cima, só Deus!"
Gutenberg Costa, Membro do Instituto Histórico e Geográfico do RN e presidente da Comissão Norteriograndense de Folclore. Autor da pesquisa inédita e rejeitada - Rezadeiras do RN.
Morada São Saruê, Nísia Floresta/RN.
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