Poetiza das Flores, Lúcia Helena Pereira conduziu o cerimonial
Homenagens
Centro da Mesa de Honra - Presidente Púbio José e Vice-Presidente D. Maria Aída Ramalho Cortez Pereira
CORTEZ PEREIRA–
Guardião do povo
por Jania Souza
Marco
de um novo fazer político voltado para a solução do paradigma da pobreza no RN,
Cortez Pereira, um dos mais ilustres filhos dessa terra, dedicou sua existência
ao equacionamento dessa triste sina, dessa herança maldita. Destacou-se como um
dos seus maiores homens públicos durante o século XX.
Grandiosa
e de inestimável valor é sua importante obra. Inacabada na sua totalidade de resultados futuros por falta de continuidade
governamental. Todavia, por respeito a sua memória e as novas gerações, não pode ser relegada ao esquecimento por representar uma
negação à afirmação da identidade de um povo. Seu legado exige na sua
simplicidade ímpar, sem qualquer traço de soberbia ou demagogia, um centro de
estudos que possibilitará as novas gerações, principalmente a política,
debruçar-se sobre diagnósticos, alternativas, sugestões e modelos para auxiliar
no planejamento estratégico direcionado para o desenvolvimento do estado,
procurando resolver o doloroso problema da carência do potiguar.
“Daqui, deste meu mundo, não deixarei de viver os
problemas do Rio Grande do Norte. Continuarei a estudá-los e tentarei sempre
imaginar soluções, num exercício continuado de amor à terra e ao povo.”
Cortez
Pereira
Homem devoto
às próprias convicções e à família. Compartilhou sua brilhante, árdua e
espinhosa estrada com a eterna e muito amada companheira Maria Aída Ramalho,
mulher múltipla em espíritos femininos, satisfazendo-o plenamente em todos os
momentos, principalmente nos críticos por nunca o abandonar a revelia. Em
reconhecimento ao tributo legado por essa marcante vida ao seu povo, Aída resolveu organizar a
presente obra como preâmbulo introdutório ao significante acervo deixado pelo
imortal Cortez Pereira, sendo imensamente feliz ao escolher a entrevista
concedida ao jornalista Carlos Lyra em 24/01/1983 em sua residência para o
programa Memória Viva da TV-Universitária, documentando-a com fotografias
históricas.
Deslumbramento!...
É o mais puro sentimento despertado no leitor pelo depoimento apaixonado,
entusiasmado, sofrido, orgulhoso, digno, sempre altaneiro. Quem se aventurar a
singrar o mágico caminho do tímido, inteligente, sonhador infante Cortez
Pereira metamorfoseando-se no grande homem público potiguar realizador de
sonhos por amor à sua terra, a seu povo, será surpreendido pelo paladino
quixotesco investido de magnífica oratória a defender os interesses dos
oprimidos, carentes, excluídos (fantasmas da seca a persegui-lo). Transpôs as
porteiras de Currais Novos/RN, que não conseguiram limitá-lo; alçou os mais
espetaculares vôos desafiando estruturas governamentais arcaicas e o poderio
econômico, tornando-os seus aliados na busca de recursos financeiros para
viabilizar seus programas – transformar aridez em manancial permanente, pobreza
em bonança, otimizando a vida do homem do campo através da produção
sistematizada, integrada e assistida dos projetos de colonização
agro-industriais-rurais (Serra do Mel; Chapada do Apodi; Mato Grande; Boqueirão
dentre outros).
“O que falta não é dinheiro, são idéias. Fala-se em terra
seca do Nordeste, mentira. Seca, seca mesmo é a inteligência dos que governam o
Nordeste!”
Cortez Pereira
Espírito
audaz forjado na secura do Seridó cujas “serras secas”, inférteis, não
produziam alimentos para mitigar a fome dos seus abundantes filhos; triste e
poeticamente descreve – “A terra parece até filha de retirante: magra, sem carne,
com ossos de pedra...” – o espectro da seca acompanhou toda sua trajetória,
inspirando-o e levando-o a rasgar as fronteiras do estado e pleitear com
sucesso o capital nacional e o externo (BID/BIRD) para financiar o estado e
posteriormente o Nordeste, consolidando-se como o grande pioneiro
desenvolvimentista da região tão segregada pelas políticas governamentais, que
priorizavam as regiões sudeste e sul do país. Vitorioso numa época de tão
difícil ascensão. Os olhos de águia da Ditadura espreitavam todos os
movimentos, principalmente os realizados pelo grande espírito inovador,
revolucionário e indomável, que não se ajoelhava perante regras impostas à
submissão da nova ordem militar. Nova ordem castrante, ceifadora de tantas
vozes valorosas para a nação.
Político desde
a infância. Inteligência privilegiada. Grande orador e negociador. Ético ao
extremo. Cercado e admirado pela intelectualidade da época. Teve a honra de ser
saudado em nome do povo pelo amigo e professor Câmara Cascudo, quando da sua
posse no governo. Ainda criança ingressou no convento, viajando nas estradas do
conhecimento, quando “conhece” Marx e torna-se aluno de D. Nivaldo Monte a
pedido do seu pai. Criticamente, torna-se agnóstico, construindo sua própria
linha de pensamento e ação. Faz-se o grande articulador desenvolvimentista que
foi: transformador de realidades; fiel escudeiro das tradições potiguares;
guardião de seu povo.
Precursor no
programa de Planejamento Familiar (paternidade/maternidade responsável).
Exemplo seguido pelo estado do Espírito Santo e referência para Cuba, não
sobreviveu às pressões da Igreja e da Ditadura. O alto índice de violência
atual no país indica a principal conseqüência pela falta de aplicação desse
programa na vida do brasileiro, pois a população cresce desordenadamente e as
políticas públicas não conseguem oferecer educação, saúde e infra-estrutura
para todos na mesma velocidade e proporção; nem conseguem aumentar o nível de
oferta de empregos para absorver o grande contingente de mão-de-obra ociosa lançado
no mercado todo ano... quando os jovens alcançam idade produtiva... quando
crianças têm que contribuir com a renda da família... quando tantas empresas
fecham por falta de planejamento, aumentando o nível de desemprego; enquanto o
narcotráfico está cada vez mais organizado, recrutando jovens em todas as
escalas sociais. Acorda Brasil!...
“...o RN tornou-se o desbravador de um caminho que o
Brasil terá de seguir se quiser ter um destino melhor.”
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