segunda-feira, 22 de novembro de 2010

BAGAGEM DE UM SERTANEJO POEMA EM CORDEL DE MANOEL CAVALCANTE, POETA PAUFERRENSE DE 20 ANOS, ORGULHO POTIGUAR

Bagagem de um sertanejo.

Como quem quer ganhar vida
Eu fui mais um passarinho,
Por querer vencer não quis
Ficar parado em meu ninho,
Acunhei de mundo afora
Bati asas e fui embora
Em busca de meu caminho.

Decidi seguir sozinho pra
abrir minha própria estrada
Vim trazendo a honestidade
Que pelo meu pai foi dada,
Ele eu trago como escudo
Pois sem pré me ensinou tudo
Sem precisar dizer nada.

Eu vou cumprir a jornada
Que o destino me prepara
Levando as mãos calejadas
Uma coragem tão rara,
Levo as lições de pai que ouço
Vou sem dinheiro no bolso
Mas com vergonha na cara.

Rasgando o vento na cara
Vou procurar o meu norte,
A cada olhar vou mais sábio,
A cada passo mais forte,
Sem chorar chance perdida
Dentro do jogo da vida
Eu vou ver se tenho sorte.

Eu vou celebrar a morte
De todo o meu grande atraso
Sem esperar que aconteça qualquer coisa por acaso
Minha bagagem está pronta
E eu vou fazer minha conta
Sem temer o fim do prazo.








Vou levantar vôo raso
Por cima do meu passado,
Ver cada bobagem feita
E cada feito coroado,
Levando meu julgamento,
Carregando o sentimento
De ao menos ter arriscado

Vou levando do meu lado
A minha melhor paixão
Como se fosse meu sonho
Pegado na minha mão,
Ela é a última e a primeira
Levo a foto na carteira
E o mor no meu coração.

Eu vou levar meu pião
Escavacando o infinito,
Os meus contos de cigarro,
Meu apito de chilito
A bicicleta sem freio
E de cada amigo feio
Eu levo um gesto bonito.

Eu levo a bola sem pito
Que furava todo dia,
Meus folhetos de cordel,
Meus livros de poesia,
Minha calça de quadrilha
E o meu radinho de pilha
Para escutar cantoria.

Levo o cheiro na bacia
De uma comida de milho
O cochilado de um velho
Na cadeira de fitilho...
Levo a bodega sortida
Vendendo amor pela vida
Como o da mãe pelo filho








Levo o moinho do milho
Para fazer o xerém,
Levo a cangalha no torno
Pendurada no armazém;
Levo no veneno na lata,
Pois muriçoca e barata
Em qualquer buraco tem...

Sem me esconder de ninguém
Eu levo a vontade franca
Levo a força de uma inchada,
Levo os gumes da chibanca,
Vou cultivar meu presente
Quando se rega a semente
A planta ninguém arranca.

Eu levo o feijão de arranca
Fervendo lá cozinha,
Um prato de avueto assado
Atolado na farinha,
Levo os pintos no terreiro
E em meu nariz levo o cheiro
Do café de manhazinha.

Vou levar a campainha
Que eu tocava e corria,
Levo a minha vó sentada
Desbulhando Ave Maria
E levo a noite assombrada,
Pois sobrava presepada
Quando faltava energia.

Levo a casa que eu fazia
Junto do ccanto do muro,
A conversa nas esquinas
O namoro em beco escuro,
De nada meu me envergonho,
Bato as esporas do sonho
Pra galopar no futuro.






Levo a galinha pé duro
Com caldo em cima da mesa,
Pra alumiar meu presente,
Levo a lamparina acesa,
Minha fé, minha crendice
E com minha “beradeirice”
Levo a minha “matutesa”.

Eu vou levando a beleza
Dos conselhos de uma ancião
A esperteza de um menino
Traquinando pelo chão,
A coragem de um vaqueiro
E poder de um cachaceiro
Depois que toma um pifão.

Vou levar o tropicão
Da subida do batente,
A inspiração rebuscada
De um cantador de repente,
Simples na sombra da calma,
Tirando os versos da alma
E lapidando-os na mente.

Vou levar o leite quente
Com catinga de queimado,
Minha rede no alpendre
Com mãe cantando de lado,
Levo o gibão com a cela,
Mas sem fechar a cancela
Do curral do meu passado.

Num pote eu tenho guardado,
A fonte do meu desejo,
Na manga infinda do mundo
Todo perdido eu me vejo,
Vou viver cada segundo
Tentando gritar pro mundo:
Como é bom ser sertanejo.

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