A POESIA DE LUIZ OTÁVIO OLIANI
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_de_janeiro/luiz_otavio.html
POEMAS DO LIVRO “FORA DE ÓRBITA”, DE LUIZ OTÀVIO OLIANI, EDITORA DA PALAVRA, RIO DE JANEIRO, 2007.
RESGATE
como posso resgatar
o que não existe em mim?
ao beijar a solidão
eu me dispo por inteiro
da escória que é o homem
na inútil tentativa
de ser Deus por um minuto
TERRITÓRIO
“O que não sei fazer desmancho em frases”
Manoel de Barros
brota em mim o verbo
com suas pessoas
desconjugá-las não posso
em mim
a palavra
se faz morada
HERANÇA
não deixo bens
aos que ficam
de mim
restará a palavra
(antes cinzel)
agora verso
a burilar os homens
DESCOBERTA
nada detém a vida
esvai-se o tempo
o tempo em mim
caramujo do imo
guardo porta-retratos
aqueço a memória:
a infância me foi roubada
PARTILHA
a mão estendida
abençoa o trigo
à procura do ponto
ágeis dedos
manipulam a massa
do mundo
mas a vida só faz sentido
quando se reparte o pão
LABUTA
A João de Abreu Borges
em sua própria vida
o homem finca raízes
atravessa árvores
mata fungos
sem olhar para trás
e perceber: os frutos
não mera consequência
BOEMIA
hoje a lua é verso
de loucos, de putas
e de poetas
hoje a lua é verso
prazer bêbado
regaço
COTIDIANO
há vísceras
em todos os lugares
quem se indigna
diante de quem sangra?
In: Fora de órbita, Editora da Palavra, 2007.
POEMAS DO LIVRO ESPIRAL, DE LUIZ OTÁVIO OLIANI, EDITORA DA PALAVRA, 2009.
MÃOS DESUNIDAS
não serei o poeta do passado
embora dele me alimente
canto o presente
que Drummond não vê
nada de serafins
cartas de suicida
- os homens aterraram
a palavra amor
num canteiro de obras
as mãos desunidas
traduzem: os espinhos
inda sufocam as flores
CASA
faço do silêncio
a morada do ser
não lhe digo
palavras duras
nem amorteço quedas
apenas guardo
a concha
em que abrigo
a solidão dos homens
FOME
ao roçar a boca da solidão
entre auroras e estrelas
mastigo minha dor
em que língua nos falamos?
RABO-DE-ARRAIA
A Igor Fagundes
ao som do berimbau
batuque ginga cadência
o poeta luta
capoeira
com a palavra
METEORITO
"O eterno é que me veste"
Astrid Cabral
não planejo escrever um versoele vem até mime explode em linguagemdomesticadonão fujo da sinase o poeta éimerso no coletivo,como usar o verbosem que representea si próprio? mesmo assimescrevoescrevonão para ser eternonem alcançar glórias escrevoporque sou instrumentoda palavra que Deus soprem meus ouvidos
NÁUTICA
A Olga Savary
navego
em tua essência
mergulho nos seixos
que te habitam
mas não naufrago
o mar nos pertence
TRANSFORMAÇÃO
A Antonio Carlos Secchin
toda linguagem
é selva
a ser devastada
toda linguagem
é terra
a ser adubada
toda linguagem
é pedra
a ser limada
REINADO
A Lêdo Ivo
enterra palavras
em alto-mar
como tesouro
às escondidas
qual pirata
faze das águas
a cidade de teus versos
FAXINA
a menina varre os dias
tenta limpar
a própria escória
como espanar o pó,
livrar-se do fardo?
longe daquela casa
passa o amor
ALTO- MAR
teias de solidão
no oceano
o navio não mais atraca
de nada servem
a âncora enferrujada
o mastro sem bandeira
a quilha
o radar
todos se foram
só o mar permanece
cúmplice dos desamores do mundo
LIÇÃO DE PORTUGUÊS
A Patrícia Blower
amar, verbo transitivo?
amar é verbo de ligação
entre dois sujeitos
in: Espiral, Editora da Palavra, Rio de Janeiro, 2009.
* Luiz Otávio Oliani cursou Letras e Direito. Consta em mais de trinta antologias de literatura. Participação intensa em eventos literários, jornais, revistas do País e do exterior. Recebeu mais de 50 prêmios. Publicou "Fora de órbita", Editora da Palavra, poesia, 2007, orelhas de Teresa Drummond e prefácio de Igor Fagundes; livro recomendado pelo Jornal de Letras, editoria dos acadêmicos Arnaldo Niskier e Antonio Olinto, em outubro de 2007. Em 2008, teve o poema "Teresa" musicado por Maury Santana no CD Música em Poesia, volume 1. "Espiral", com prefácio de Reynaldo Valinho Alvarez, orelhas de Astrid Cabral e foto do autor por Eloísa Batelli, é o segundo livro de poemas do escritor, publicação da Editora da Palavra, 2009. Tem poemas traduzidos para o inglês, francês, italiano e espanhol na Revista Ponto Doc número 7, edição de 2009.
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