Observações mecânicas das eletricidades dos belos poetas
José Correia Torres Neto
É como se o meu olho fosse uma jaboticaba que percorresse três pares de outros olhos pintados e inventores de trique-troques. E nisso surge o desejo de ouvir, ouvir, ouvir até desaprender a falar.
Desembalar do plástico transparente da pequena caixa e buscar, como numa implosão particular, o pequeno disco de lustre comum pode não ser surpresa, pode não ser algo tão diferente assim, mas, quando se trata dos Poetas Elétricos se tem a certeza de que algo muito distante da normalidade e do corriqueiro vai surgir, vai apontar.
A primeira vez que os vi foi no Café Salão Nalva Melo. Num canto de sala e ocupando olhares e audições alheias, desfraldaram um sem-número de construções poético-musicais. Como num pêndulo que hipnotiza, como numa dose maior de aguardente, como numa abdução, paramos de existir.
No universo de Ina ou até mesmo na delicadeza de uma manteiga besuntada em nossos inocentes ouvidos (passando pela poesia lírico-narrativa de Serafim e o seu improvável fim), encontramos uma inspiração que me deixa pasmado e faz despertar um riso meio espantado, curioso pela vigas estruturantes que pende em cada palavra.
As vozes firmadas entre o eletrônico e o poético mostram os diferencias entre a simples poesia cantada (ou declamada) e a poesia 'verdadeiramente' codimentada de acordes criativos.
São ousados, atrevidos e até petulantes no construir o novo, no pensar diferente, no querer mostrar a fenomenologia da palavra. Os Poetas Elétricos transformam os cabeamentos de alta tensão e as pequenas pilhas alcalinas em bolachas de água e sal que se desmancham nos cafés de fins de tardes.
Multiplos, eles não são: são diversos.
Publicado no blog Potiguarando:
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