CARAVANA DE ESCRITORES DO RIO GRANDE DO NORTE: UMA VOZ PERENE A ECOAR NA MEMÓRIA DA XIII BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DO CEARÁ
Escritor, poeta e jornalista José de Castro
Um grupo significativo de quase trinta autores e autoras, de poesia e prosa, estiveram em Fortaleza, por ocasião da XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará, que teve como tema “As cidades e os livros”. Mostraram a força da literatura que se pratica nas terras de Poti.
Vários talentos puderam se manifestar e encher os olhos, ouvidos, o coração e a alma de uma plateia que se encantou com as performances e com as declamações desse grupo do Rio Grande do Norte.
A maior parte das apresentações da Caravana de Escritores do RN deu-se no espaço “Praça do Cordel”, cartão de visitas de entrada dessa Bienal. Por ali desfilavam grandes nomes do cordel nordestino, como os irmãos Klévisson Viana e Arievaldo Viana, ícones do cordel cearense. Dentre vários folhetos, pudemos adquirir, por exemplo, “Artimanhas de Pedro Malazartes e o Urubu Adivinhão”, de Klévisson Viana. De Arievaldo Viana, o engraçadíssimo cordel “O Batizado do Gato”, o qual tivemos oportunidade de ouvir recitado pelo próprio autor. Assistimos também a diversas apresentações do cordelista Paulo de Tarso, o Poeta do Tauá, que tem inúmeros folhetos dedicados ao grande Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Um dos destaques é o do cordel que narra o encontro no céu de Patativa do Assaré com Gonzagão. E assistimos também à bela apresentação do multiartista Bule-Bule, da Bahia, que fez o lançamento do seu cordel “Quatro almas e um destino”. Na “Praça do Cordel” mostrava-se o que há de melhor dentre os clássicos desse gênero, incluindo o inesquecível cordelista paraibano, Leandro Gomes de Barros (1865 – 1918), com o seu “O imposto de Honra”. E clássicos semelhantes ao famoso folheto “A chegada de Lampião no inferno” (autor: Zé Pacheco) e a “Peleja de Cego Aderaldo e Zé Pretinho (autor: Firmino Teixeira do Amaral). Assim, foi nessa “Praça do Cordel”, a respirar todo o clima da verdadeira literatura popular do nordeste, que o nosso grupo se apresentou. E brilhou.
Tivemos diversas performances e declamações de autores e autoras como Rosa Regis (autora de inúmeros cordéis, ex-presidente da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel), Dorinha Timóteo e o inseparável Barroca, mesclaram música popular com histórias, numa sinergia envolvente), Celia Melo (Bombom, autora de “Bombom do nordeste é rapadura” e outros escritos, declamou um belo texto sobre o cangaço, sob a visão feminina de Maria Bonita), Eva Potiguar (enfocou o tema sobre os direitos humanos, com destaque para a luta contra o feminicídio e a resistência dos povos indígenas), Aluizio Mathias (escritor, poeta e compositor, editor da publicação “Folha Poética”), José de Castro (apresentou livro de humor, poemas para adultos e também literatura infantil), Tereza Custódio (brindou-nos com o texto do seu cordel “O Valente Mendonça”), Marcos Campos (autor de “O bêbado sonhador” e “Babel”), Roberto Noir (autor do livro de poemas “Post Mortem” e vários zines), Leocy Saraiva (autora de “Cantos e Espantos” e “Versos Temporais”), apresentaram o melhor de sua poesia, cada um com suas peculiaridades. E contamos com a presença, apoio e registros da nossa querida ativista cultural Carla Alves (autora do projeto multicultural "Sarau Quinta das Artes").
Enfim, cada um com seu jeito peculiar de trazer o encanto da literatura potiguar, com toda a força da poesia, músicas e textos vivenciados com muito brilho. Em decorrência dessas apresentações, muito bem recebidas e aplaudidas por um variado público da Bienal, a Caravana de Escritores do Rio Grande do Norte conquistou um espaço nobre dentro da “Praça do Cordel” e montou um stand representativo da nossa literatura. Destacamos também a presença da Editora CJA no evento, que apresentou em seu stand uma variedade de obras de autoras e autores potiguares, desde a literatura para adultos até mesmo à literatura infantil e infantojuvenil. Como exemplos, a escritora Araceli Sobreira que lançou o seu livro de contos “O Espelho de Eloísa”, atraindo grande público para receber o seu autógrafo. No mesmo stand aconteceram os lançamentos do romance “Francisca”, de Ana Cláudia Trigueiro, autora do romance “O mistério do Verde Nasce” e do livro de contos “A ira de Judas”, além do infantil “João e Maria do Engenho“. E também o lançamento do primeiro livro infantil da “booktuber” Almira Dantas, “O voo da pequena Assum”, também pelo selo CJA. Vários livros figuravam nesse stand, como “Poemas Brincantes” e Brincadeiras Poemantes” (infantis de José de Castro), bem como “O palhaço e a bailarina”, deste autor em coautoria com Clécia Santos. Haviam também outras obras de autoras como Drika Duarte, Clécia Santos e autores como Junior Dalberto, Clemilson Sena, Aluisio Azevedo Junior, Thiago Gonzaga, Oreny Júnior, Manoel Onofre Jr., dentre outros. Tudo isso mostrando uma fatia significativa da editoração de livros no RN.
Houve, também, no espaço Natércia Campos, a apresentação de Tereza Custódio, autora do premiado “O Bálsamo”, que falou do seu mais recente livro, a ser lançado em breve, intitulado “O baú de Filomena”. Presente à mesa a jovem cronista natalense Andreia Braz, que falou sobre essa mais recente obra da romancista. O lançamento contou, ainda, com a presença do novelista e contista potiguar Damião Gomes (autor de “O Futurista”), que participou ativamente na mesa nos momentos de perguntas e respostas.
De passagem, relembramos que um dos pontos altos dessa Bienal foi a palestra da intelectual Conceição Evaristo, Mestre em Literatura Brasileira, Doutora em Literatura Comparada, e uma das maiores autoridades brasileiras em “Literatura Negra” e em estudos de autores afro-brasileiros. Alguns dos membros da Caravana de Potiguares puderam assistir a essa palestra, como foi o caso do poeta, editor da revista virtual Kukukaya Poesias, José Ivam Pinheiro que apresentou, num dos saraus da Caravana Potiguar, o seu poema-música “Lição de Amor” (melodia de Ivando Monte, compositor potiguar).
Gilvania Machado e José de Castro participaram, também no espaço Natércia Campos, do lançamento do livro Antologia 6 – Poetrix 20 anos, com a presença de uma plateia atenta que adquiriu a obra e celebrou esse gênero minimalista genuinamente brasileiro (batizado na Bahia, pelo poeta Goulart Gomes). Devido à performance dessa verdadeira trupe de artistas, a Caravana foi convidada a abrilhantar um sarau no stand da Associação Cearense de Escritores, a convite do seu presidente, Silas Falcão. Foram momentos de muita emoção, com apresentação de performance musical por parte de Dorinha e Barroca, além de poema alusivo à mulher, por Célia Melo (Bombom). Também se apresentaram Aluizio Mathias, Roberto Noir , Marcos Campos, José de Castro, e as poetas Jania Souza e Eva Potiguar (em vias de lançar a 2a. Edição do seu livro de poemas “Do casulo à Borboleta” e de seus dois recentes livros infantis “Gatos Diversos”, por ela ilustrados).
Houve também oficina de confecção de bonecas africanas (“abayomi”), por Dorinha Timóteo, no stand da Caravana. Ressalte-se um dos seus belíssimos livros “A bonequinha de pano”, versão artesanal, que ela personaliza para cada leitor que a encomenda, obra que já ganhou não só o Brasil, mas grande parte da Europa, por onde a autora já viajou contando suas histórias.
Além do mais, as escritoras e poetas Jania Souza (autora de “Lápis de Boca, sentimento” e “Pingos de Momento”), Gilvania Machado (autora de “Rendas & Fendas”, poetrix), Eva Potiguar, Celia Melo (Bombom) e Jeanne Araújo (essa última, poeta e autora do romance “Combustão”, em coautoria com o jornalista e poeta Cefas Carvalho), participaram do Sarau Mulherio das Letras, um movimento de cunho nacional que vem se destacando por alçar a voz da mulher cada vez mais alto, para que seja ouvida em sua luta de ampliação de espaços socioculturais no país e no mundo. E, ao se falar na escritora Jania Souza, que é vice-presidente da UBE/RN, tomamos conhecimento de que ela, depois de proferir uma palestra no stand da Associação de Escritores do Ceará - ACE, entregou ao escritor Silas Falcão, presidente dessa Associação, um Certificado de Sócio Efetivo da UBE/RN por acolher a Caravana de Escritores do RN, enviado por Eduardo Gosson, firmando uma parceria de intercâmbio cultural e literário entre as duas entidades. São sementes de parcerias literárias plantadas durante a Bienal.
Em resumo, a Caravana é multifacetada, corolário de muitos talentos. E mais ainda se desdobrou e se multiplicou ao máximo para se fazer presente em várias programações da Bienal. E, por onde passava, a Caravana, com força e garra, deixava um rastro de emoção, alegria, encantamento e magia. Tudo isso nos mostrou que expedições literárias como essa precisam contar com mais apoio ainda, para que possa apresentar outros talentos que, infelizmente, não puderam conosco ali estar. Mais condições fossem oferecidas e muito mais brilho haveríamos de esparzir pelas terras de Iracema.
Ficou-nos a enorme gratidão aos nossos irmãos cearenses que nos receberam com todo o carinho e que nos prestaram todo o apoio que lá precisávamos para mostrar a nossa arte. Espaço de palco, mesa para exposição dos livros e para autógrafos, boa estrutura de som e alimentação de almoço e janta. Temos plena certeza de que nossa presença nessa Bienal ficou indelevelmente marcada perante todos os que a organizaram e que apostaram no nosso talento. Temos a consciência tranquila de que demos o melhor de nós. Cada um fez a sua parte. E agradecemos ao apoio da Fundação José Augusto que nos cedeu o ônibus com um motorista que ficou o tempo todo presente conosco, atendendo-nos com desvelo. Agradecemos também ao apoio institucional da SETHAS, através da FUNDASE e da SESED, todos do Governo do Estado do Rio Grande do Norte.
Entendemos que o autor potiguar, aqui no RN, precisa ser muito mais prestigiado ainda para que possa publicar seus livros e continuar fazendo esse trabalho de formiga para carregar as folhas da nossa literatura para além das fronteiras do Rio Grande. E que as escolas e os professores possam receber mais incentivos para aquisição de livros de maneira a manter sempre renovados os acervos de suas bibliotecas escolares. E que hajam mais concursos literários para a descoberta de novos talentos.
Saibam que erguemos bem alto a bandeira da nossa escrita lá no estado do Ceará, mostramos a força da nossa poesia e a paixão pela literatura. E lembrem-se também que ali, cada um de nós, além de autores e artistas, éramos, sim, a voz do Rio Grande do Norte que se erguia. E, temos certeza, ficará na lembrança de cada um dos que estiveram naquele evento literário, um dos maiores e mais representativos da literatura contemporânea brasileira. E, quiçá, possamos a ter de volta a nossa Bienal Internacional do Livro de Natal. Um sonho a ser realizado. Viva o livro! Viva a leitura! Viva o autor potiguar! José de Castro, jornalista, escritor e poeta.
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