Um sentimento de impotência envolve-nos na exata hora em que um companheiro de lutas diárias se encanta para seguir seus novos passos em outra dimensão.
Embora seja apenas uma viagem, a ruptura na convivência machuca deveras pela certeza de não mais poder ter a oportunidade de em um certo dia esbarrar com ele em uma esquina ou no Grande Ponto. Quiçá em uma aconchegante e envolvente reunião da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte - SPVARN, para longos papos sobre literatura, poesia, política e novidades ocorridas em nossa tribo potiguar.
Foram numerosos os momentos vivenciados na Biblioteca do Restaurante do SESC na Avenida Rio Branco; na Casa do Trabalhador na Rua Gonçalves Ledo; na varanda ou auditório da Fundação Capitania das Artes - FUNCARTE; no Palácio Felipe Camarão sede da Câmara Municipal de Vereadores em Natal; em reuniões dos Direitos Humanos - Dhnet com Roberto Monte; ou a seu convite para declamar e confraternizar em eventos do Partido Comunista do Brasil - PCdoB sua fonte ideológica na luta por melhores condições de sobrevida humana e social. Nos anos de 1987, ocasião em que tive o prazer de conhecê-lo e tornar-me sua amiga até sua reclusão em razão de debilitação na saúde, logo após o lançamento de seu último livro, em que homenageou vultos históricos da cidade e do Brasil, que tocaram seu coração. Dentre os quais encontrava-se o seu amigo e jornalista Ubirajara Macedo, último a perecer vitimado por um câncer.
Orgulhava-se de trabalhar em sua empresa, Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte - CAERN. Local em que se tornou sindicalista até a sua aposentadoria. Liderou muitas campanhas salariais e junto com os seus colegas conseguiram muitas melhorias para empregados e, consequentemente, suas famílias. Jamais foi um ser individualista. Sempre lutava pelo coletivo sem a pretensão de ficar milionário ou muito importante com essa opção de escolha. Era altruísta e abnegado às causas humanas.
Havia grande afinidade entre nós dois e, em certa ocasião em conversa na varanda da FUNCARTE, em frente à Biblioteca Municipal Esmeraldo Siqueira, enquanto esperávamos a chegada do público para o SARAU Estação da Lira, entre 18h e 18h30, falou-me:
"- A SPVARN é um lugar atípico onde um comunista conversa e troca ideias com uma cristã social democrata com harmonia e parcimônia de forma amigável, respaldados na compreensão e respeito às diferenças de pensamento. Torna possível a convivência e a coexistência das diferenças ideológicas sem conflitos desnecessários de supremacia ao poder."
Em resposta, sorri concordando com a afirmação.
Mery Medeiros era esse ser especial, como poucos, que passam pela Terra e marcam esse chão com suas palavras e ações.
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