domingo, 25 de setembro de 2011

ALGUNS SONETOS DE MAGNO, PAI DA BELA JULIANA, MÃE DA ENCANTADORA CECÍLIA, PURA PRIMAVERA

POST MORTEM



Que infortúnio – uma casa de granito!...
Haverá lá fora uma vela acesa?...
Uma flor?...Uma lágrima?... Uma reza?
Quem pensa em visitar meu lar maldito?

Dês que aqui me enterraram, eu me agito.
A tampa tento erguer, mas muito pesa.
Pelo menos tivesse eu a certeza
De que ela ouve o meu triste e rouco grito...

Por que com tanta angústia e embalde brado,
Se sei que é tão efêmera a existência
Lá fora e minha ausência é desalívio

Pra ela? Por que ficar como enjaulado
E faminto animal? É ter paciência:
Breve, aqui, ela estará no meu convívio.


RESSURGÊNCIA





Vejo-te na cozinha, junto à pia,
Onde aprontas um suco de mangaba,
Obra a que causo estorvo, que inacaba;
Fica sem leite gato que não mia.


Minha vida, até pouco uma invernia,
Plúmbea, ora se incendeia, na igaçaba,
Cheia de lava, meu peito, que se baba,
Tanta paixão que há tanto não sentia.


Sobre minha alma, agora, se desaba,
Basta, uma cachoeira de alegria,
Pelo que pouco adiante chapéu de aba.


Essa fé, essa fé em que se confia,
Gera a força que arria, à mão, rês braba, a
Luz que nossa sombria vida alumia.


TUA AUSÊNCIA




É como a poesia que não fiz.
É como a rubra flor despetalada.
É como um arrebol sem passarada,
A espalhar sinfonias primaveris.

É como um fim de tarde ensangüentada,
Fazendo emudecer os colibris
- Nesse instante o crepúsculo me diz
Toda a dor pela ausência da amada -.

É como pés descalços, infantis,
Contidos em sombria, fria calçada.
É como o dia, Amor, em que não ris.

É como cada baga caída em cada
Batalha desta guerra que eu não quis.
Tua ausência enfim, é tudo sendo nada.


VOCÊ



É você que me cuida, quando adoeço.
É você que me acalma, se estou aflito.
É você que me orgasma, se me excito,
Incendiando-me e pondo-me ao avesso.

É com você que sempre me conflito
E, depois, docilmente, lhe obedeço.
É pra você que, à noite, rezo o terço
E, quando acordo, é a sua foto que eu fito.

Resignada, é você que ouve o meu grito.
É você que me anima, se esmoreço.
É você que me paga o que eu não quito.

É você que me estende a mão, se desço.
Tenho-a, aqui, todo dia, mas é-me um mito.
É você a mulher que eu não mereço
.

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