segunda-feira, 27 de outubro de 2025

CLUBE DE LEITURA PANGEIA LER "EM HORAS VAGAS" DA ESCRITORA JANIA SOUZA

 



*Em horas vagas — o tempo encantado de Jania Souza.*


Há livros que se abrem como janelas antigas, deixando entrar o perfume da infância e o murmúrio das águas. "Em horas vagas", de Jania Souza, publicado pela Caravela Selo Cultural em 2017, é uma dessas obras raras em que a prosa se confunde com a poesia, e o cotidiano se revela com a doçura de um retrato amarelado pelo tempo. Potiguar em essência e memória, o livro é um relicário de dezessete contos que não se contentam em narrar, eles respiram, recordam, sentem. Cada texto é um lampejo de lembrança, uma fresta por onde escoa o passado da cidade do Natal, onde o som dos chafarizes ecoa como reza. No conto de abertura, a autora escreve: “Colhia-se, entre pedras, o precioso líquido. Vinham crianças, idosos, adultos. Todos em súplica por um fio de vida.” — e o leitor, tocado, quase sente o peso do balde e o frescor da água.

Mas Jania não se limita ao encantamento. Sua escrita também é denúncia e compaixão. A poeta observa o mundo com o olhar de quem reconhece as feridas da modernidade: os que vivem à margem, os corpos cansados das mulheres de tripla jornada, o abismo entre o real e o virtual. Em um de seus contos mais pungentes, confessa: “Não engano meus sentidos, uma vez que nos mesmos cruzamentos deparo-me invariavelmente com a miséria debruçada na janela de meu peito. Agonizante Cristo derramado na cruz do cruzamento.” — e o leitor sente que a cidade também sangra.

Entre a dureza da rua e o sopro da lembrança, há espaço para o riso e a ternura. Nos contos “O dia em que o boi falou” e “O poeta seu João”, a autora desenha a leveza com o mesmo cuidado com que, em “Anáguas de espuma”, ensaia o erotismo: “A renda das espumas traça um bailado na areia. Decora o namoro singelo, porém nada angelical, desabrochado em fogo de sensualidade...” 

É nessa mistura de pureza e fogo, de cotidiano e sonho, que a voz de Jania se afirma feminina, múltipla, inteira.

Ler "Em horas vagas" é como mergulhar em um rio de memórias: há correntezas que nos arrastam para a reflexão, há águas mansas que nos devolvem à infância. E, quando emergimos, trazemos conosco a sensação de que o tempo pode ser tecido com palavras.

Jania Souza, economista e contadora de formação, prova que os números também sabem dançar quando tocam a alma da literatura. Sua escrita confirma que, mesmo entre planilhas e cálculos, há espaço para o encanto. E foi assim, em uma hora vaga, entre o trabalho e o silêncio, que li sua obra, sentindo que o tempo havia se tornado poesia.


Ozany Gomes - Mentora e Coordenação do Clube de Leitura Pangeia. Presidiu a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte - SPVARN, trabalha na Pinacoteca do RN. Escritora, poeta, pedagoga, editora de livros e produtora cultural. Compartilha com seu esposo, o poeta, professor e historiador Cláudio Wagner os projetos na área da literatura e cultura, inclusive a execução e coordenação do Clube de Leitura Pangeia 




Jania Souza ladeada pelos anfitriões, poetas Ozany Gomes e Cláudio Wagner, organizadores e mediadores no seleto Clube de Leituras Pangeia. Recomendo!!!



O ator, poeta, escritor Sandemberg Oliveira aceitou o convite para realizar a leitura da crônica memória "Lembranças de Minha Infância no Bairro do Alecrim" escrita para publicação durante as comemorações dos 400 Anos da cidade de Natal. Tendo sido publicada em primeira edição com ilustrações do saudoso e imortal da Academia Norte-rio-grandense de Letras, poeta e artista plástico Dorian Gray Caldas dividida em duas partes Minhas lembranças... E Movimentos populares... no Jornal Diário de Natal. Esse texto compôs o TCC da graduanda em Artes UFRN, Kalline em 2009, foi publicado no livro em comemoração aos 112 Anos do bairro Alecrim; foi gravado em vídeo para o YouTube na Suíça; em 2023 roteirizado pela equipe profissional e de alunos para o trabalho de literatura e cinema do Colégio Potencial sobre a Feira do Alecrim após a obra ser estudada com os estudantes. O musical foi filmado e postado no canal do YouTube, nesse blog e no Instagram pela autora, que autografou na ocasião o livro para os adolescentes. Emocionante! E parte da história do bairro do Alecrim e dos seus habitantes ganha o mundo através da literatura...

A poeta, escritora, cronista, Diretora do Selo Editorial SPVARN e servidora pública na Secretaria de Educação e Desportos do RN - SEEC foi convidada pela organização para ler "Anáguas de espumas", texto em prosa poética que narra a metamorfose da menina para o estágio de mulher ao começar a sentir e compreender o seu corpo e os sentidos despertos pelo metabolismo dos hormônios durante a puberdade. Um relato intimista ao eu, analisado do ponto de vista da sensibilidade e estética da descrição narrativa da autora pelos presentes ao evento.



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